Esquema de fraudes envolvendo fintechs atinge setor de saúde e expõe falhas regulatórias
- B+News

- 23 de set.
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SulAmérica aponta participação de 11 clínicas em operações suspeitas que somam
quase R$ 6 milhões

Casos de fraudes com participação de fintechs, antes restritos ao setor financeiro, agora também foram identificados na área da saúde. Segundo apurações da SulAmérica, clínicas e instituições de pagamento estariam se aproveitando de brechas no sistema de reembolso para lucrar indevidamente.
De acordo com a seguradora, ao menos 11 clínicas em São Paulo, Pernambuco e Bahia teriam participado do esquema, que movimentou aproximadamente R$ 6 milhões. As práticas foram denunciadas à polícia e já resultaram em liminar favorável à SulAmérica para suspender pagamentos ligados às empresas investigadas.
Como funcionava o golpe
A investigação revelou que duas instituições financeiras — a Iugu Instituição de Pagamento e a HBI Sociedade de Crédito Direto (Facilicred) — teriam aberto contas e realizado empréstimos em nome de beneficiários sem o consentimento deles. Com comprovantes de transações e notas fiscais emitidas pelas clínicas, o reembolso era autorizado pela operadora.
Em muitos casos, os pacientes confirmaram nunca ter solicitado tais empréstimos, tampouco possuíam vínculo com as empresas citadas. O juiz Gustavo Bretas Marzagão, responsável pela liminar, destacou que havia fortes indícios de fraude em coautoria, praticada por meio do chamado “reembolso assistido”, em que clínicas médicas acessavam os dados do beneficiário e solicitavam reembolsos com recibos inflados ou falsos.
Impactos e falhas na regulação
Para especialistas, episódios como esse refletem tanto a vulnerabilidade dos sistemas de saúde suplementar quanto as fragilidades regulatórias no setor financeiro. Rafael Bianchini, professor da FGV Direito SP, ressalta que o crescimento acelerado das fintechs coincidiu com a redução do quadro de servidores do Banco Central, responsável pela fiscalização. “O regulador ficou estrangulado pela demanda, abrindo espaço para práticas ilícitas”, observa.
Na mesma linha, Janny Castro, sócia da Forvis Mazars, alerta que mesmo fintechs sérias enfrentam desafios relacionados à segurança e governança. “É hora de bancos e empresas de tecnologia financeira revisarem seus processos de compliance e gestão de riscos”, afirma.
O que dizem as empresas
A Iugu declarou, em nota, que atua apenas como plataforma de pagamentos regulada pelo Banco Central e não tem envolvimento nas relações entre médicos, pacientes e operadoras de saúde. Já a Facilicred afirmou que sua função é a concessão de crédito por meio de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), dentro das normas regulatórias, sem manter vínculo econômico prolongado com os clientes.




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